A tentativa do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de enfraquecer o regime dos aiatolás no Irã acabou produzindo um efeito colateral inesperado: em vez de desestabilizar o governo iraniano, a ofensiva diplomática e militar impulsionou uma reação nacionalista que fortaleceu ainda mais o poder dos clérigos xiitas em Teerã.
Nos últimos dias, milhares de iranianos tomaram as ruas da capital em manifestações organizadas e espontâneas. Sob gritos de “Morte a Israel” e com bandeiras do Irã sendo erguidas em sinal de resistência, os atos demonstraram um raro grau de coesão popular em torno do governo, em meio à escalada de tensões no Oriente Médio.
A retórica agressiva de Netanyahu, somada a ações militares pontuais atribuídas a Israel em território sírio e iraquiano, acabou servindo como combustível para o discurso oficial iraniano de autodefesa e soberania nacional. O regime dos aiatolás, que vinha enfrentando pressões internas nos últimos anos, encontrou na ameaça externa um elemento de unificação interna.
Especialistas em política internacional apontam que a estratégia israelense pode ter subestimado o impacto simbólico de uma ameaça estrangeira sobre uma população com histórico de resistência. “O Irã tem uma longa tradição de reagir com unidade diante de pressões externas. A tentativa de Netanyahu de isolar o regime teve o efeito inverso: fortaleceu-o politicamente”, avaliou um analista ouvido pela imprensa europeia.
O episódio reacende o debate sobre os limites da pressão internacional como ferramenta de mudança de regimes. E, no caso específico de Israel, mostra que a linha dura adotada por Netanyahu pode estar alimentando exatamente o que buscava combater.
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