“As autoridades enfrentarão um judaísmo ultraortodoxo global unido, lutando por sua alma”, declarou o rabino Dov Landau, líder espiritual dos judeus ultraortodoxos de origem europeia, ao jornal Yated Neeman, principal publicação da comunidade, nesta quinta-feira (7). A manchete era clara: “Guerra”.
A declaração veio após a prisão, no início da semana, de dois irmãos ultraortodoxos —ambos estudantes de seminário em tempo integral— por desrespeitarem ordens de alistamento militar.
No mesmo dia, manifestantes ultraortodoxos tomaram as ruas de Jerusalém para protestar contra as detenções. A polícia usou canhões de água para dispersar a multidão.
A isenção concedida a muitos homens ultraortodoxos do serviço militar obrigatório —exigido de outros judeus, mas não dos cidadãos palestinos de Israel— sempre foi um tema polêmico no país. Com a guerra em Gaza ainda em curso, esse tratamento diferenciado ficou ainda mais evidente, já que o país registra sua maior mobilização militar desde 1973.
Em junho de 2024, uma decisão da Suprema Corte israelense colocou fim a décadas da prática e determinou que a isenção era inconstitucional. Dessa forma, no início de julho, o Exército anunciou que dezenas de milhares de ordens de convocação seriam enviadas a judeus ultraortodoxos.
O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu depende do apoio de dois partidos ultraortodoxos para manter sua maioria no Parlamento. No entanto, a incapacidade de aprovar uma nova legislação que garanta a isenção contínua a estudantes de seminários religiosos colocou essa aliança em risco.
Ambos os partidos ultraortodoxos retiraram seus ministros do governo. Um deles também suspendeu seu apoio nas votações parlamentares.
O serviço militar é uma obrigação para a maioria dos cidadãos judeus de Israel. Mas os ultraortodoxos, que representam 14% da população judaica de Israel com cerca de 1,3 milhão de pessoas, tradicionalmente recebem isenções se estiverem estudando em seminários religiosos.
Essa isenção remonta à fundação de Israel, em 1948, quando grupos foram liberados do Exército como forma de preservar o estudo religioso após a devastação do Holocausto. No entanto, com o aumento populacional dos ultraortodoxos e o fortalecimento político dos partidos religiosos, o número de isentos explodiu.
Aproximadamente 66 mil homens em idade de alistamento recebiam anualmente o benefício da isenção antes da decisão da Suprema Corte.