Israel age de forma independente e tem condições para alcançar seus objetivos na guerra contra o Irã, iniciada na sexta (13). Mas a defesa do território do Estado judeu está sendo feita de forma coordenada com aliados da região.
A revelação da cooperação em meio à chuva de mísseis balísticos da retaliação de Teerã foi feita pelo major Rafael Rozenszajn, um carioca que emigrou há duas décadas e hoje é um dos porta-vozes das Forças de Defesa de Israel.
Desde que o conflito irrompeu, o Irã diz que atacaria forças americanas e aliadas que impedissem sua vingança —que tem sido expressa por ondas de mísseis que já mataram 24 israelenses. Até aqui, só a Jordânia havia dito que tinha derrubado armamentos iranianos na sexta, mas só porque eles ameaçaram seu território.
Nesta conversa por Zoom com a Folha, de um escritório do Exército que tinha marcas de estilhaços de mísseis na área externa, o major diverge de críticos da ação preventiva, repassa motivações e diz que o seu país vai até o fim. “Não subestimem a capacidade militar de Israel.”
Há críticas de que o ataque preemptivo de Israel não seria legal. Com o sr. responde?
O Irã vem aprimorando há anos seus sistemas de mísseis balísticos, e nós entendemos que tomou a decisão de triplicar essa quantidade. O Irã tinha, antes da guerra, 2.000 desses mísseis direcionados para Israel. Podem causar danos imensos.
O programa nuclear iraniano chegou a uma situação na qual pode produzir 15 bombas atômicas em dias. Não tínhamos opção além de agir para que o regime mais perigoso do mundo não tenha também a arma mais perigosa [Israel tem 90 ogivas, mas não comenta isso oficialmente]. Nenhum país do mundo aceitaria isso. Estamos agindo para desmantelar essa ameaça ao futuro existencial de Israel.
Estamos atacando as centrais nucleares, os mísseis balísticos, a liderança militar do Irã. Faremos tudo o que for necessário para alcançar o objetivo dessa guerra, que é eliminar a ameaça imediata do Irã.
Essa guerra é uma continuação do 7 de Outubro [o ataque do Hamas a Israel em 2023]. O quanto a degradação de aliados do Irã, como Hezbollah, pesou para a decisão de atacar o Irã agora?
Nós acreditamos que, quando o Irã percebeu que seus prepostos aqui na região, estavam muito enfraquecidos, começou a aumentar o seu nível de enriquecimento de urânio para chegar na situação em que possa ter suas mãos bomba atômicas. Então, agimos neste momento.
Israel vai até o fim com o Irã?
Essa guerra vai terminar quando o Irã não representar mais uma ameaça imediata. São três componentes, as centrais nucleares, os mísseis e o fato de o Irã ser o pai do terrorismo na região.
Meu avô foi sobrevivente de Auschwitz, há 85 anos, e ele sempre me dizia que o maior desafio para o povo judeu na Europa, nos anos 1930, 1940, é que ele não tinha um exército próprio para se defender. E hoje em dia nós temos.
Houve alguma possibilidade de decapitação da liderança política no Irã na operação?
Não, nossos alvos foram a liderança militar e os cientistas iranianos que estavam envolvidos no programa nuclear do Irã, fora armamentos e alvos militares em geral.
Então o relato de que o presidente Donald Trump teria pedido para Israel não matar [o líder supremo Ali Khamenei]não procede?
Eu não posso responder essa pergunta porque é uma questão do governo israelense.
A TV estatal iraniana, atacada por Israel, qualifica como alvo militar?
De acordo com nossa inteligência, o centro foi usado por forças militares para promover atividades operacionais sob a cobertura de ativos e infraestrutura civis. Antes do ataque, alertamos a população local para minimizar os danos a civis.
A ONU disse que não houve danos aos bunkers da central de Natanz. Muitos analistas dizem que, como Israel não tem bombas de penetração tão poderosas, seria necessária a ajuda americana para de fato acabar com o programa iraniano. Como o sr. vê isso?
A nossa informação é de que Natanz foi significativamente afetada. Nós temos planos muito bem estruturados para alcançar o objetivo dessa guerra. Nós estamos treinando há anos para isso, e agimos de forma independente.
E se alguém te perguntasse cinco dias atrás se Israel tinha a capacidade de eliminar metade do comando militar do Irã em algumas horas? Eu acho que a sua resposta seria não. Então, não subestimem a capacidade militar do Exército de Israel.
Como vocês estão avaliando o desempenho das três camadas de defesa aérea?
Essa guerra é travada contra um regime terrorista que lança seus mísseis de forma indiscriminada em direção a áreas civis, em direção à zonas urbanas residenciais. Nosso sistema de defesa aérea é um dos melhores do mundo. Inclusive nossa defesa aérea tá sendo feita em cooperação com nossos aliados mas, como todos sabem, ela não é absoluta.
Mesmo conseguindo interceptar cerca de 90% das ameaças iranianas, elas são direcionados para zonas urbanas e causam danos terríveis.
A defesa dos nossos cidadãos também baseada na atuação da nossa população. Infelizmente, ela está acostumada com esse tipo de situação, sabe o que fazer.
O sr. citou a coordenação com os aliados na defesa. Os EUA estão ajudando a abater mísseis e drones no mar Vermelho?
Nós estamos agindo em coordenação com alguns aliados, alguns parceiros aqui na região. E isso faz com que a nossa defesa aérea seja aprimorada. Ela é coordenada com os nossos aliados, mas eu não quero entrar em detalhes.
RAIO-X
Rafael Rozenszajn, 41
Judeu nascido no Rio, neto de sobrevivente do Holocausto, emigrou há 20 anos para Israel. Estudou direito na Universidade de Tel Aviv. Integra as Forças de Defesa de Israel, onde serve como major, e desde 2023 é um de seus porta-vozes.